Sou MARLON DE ALBUQUERQUE , filosofo, poeta, colunista, escritor e psicanalista . Esse blog transita pelo território da liberdade, sou livre por dentro então aqui você pode encontrar orações,enquetes, poesias, literatura, protesto social, vídeo erótico - recreativo, receita de bolo, filosofia, variações sexuais, filmes, atualidades e muitas PARAFILIAS . Barulho do vento é a totalidade da vida humana em pauta. Estamos abertos para criticas, elogios e comentários, por favor, PARTICIPE!
Surpresa
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O corpo, foi encontrado por transeuntes em avançado estado de decomposição no fim da manhã desta sexta-feira, às margens da rodovia.
De acordo com a perícia da Polícia a morte aconteceu há três dias, há sinais de um cruel estrangulamento. A policia segue as investigações considerando a possibilidade de crime de ódio( homofobia) uma vez que o rapaz desde de que assumiu sua homoafetividade vinha sofrendo inúmeras ameaças nas redes sociais, pessoas mais próximas publicam mensagens se despedindo do jovem.
Até quando?
Marlon De Albuquerque
Tudo isso dói. Mas eu sei que passa, que se está sendo assim é porque deve ser assim, e virá outro ciclo, depois.
Para me dar força, escrevi no espelho do meu quarto: 'Tá certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo, não é?' É o que estou tentando vivenciar.
Certo, muitas ilusões dançaram - mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. Também não quero dramatizar e fazer dos problemas reais monstros insolúveis, becos-sem-saída.
Nada é muito terrível. Só viver, não é?
A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito qualquer de ficar numa boa. O meu tem sido olhar pra dentro, devagar, ter muito cuidado com cada palavra, com cada movimento, com cada coisa que me ligue ao de fora. Até que os dois ritmos naturalmente se encaixem outra vez e passem a fluir.
Porque não estou fluindo.
Caio Fernando Abreu
Todo ser que possui sentimentos homoafetivos é fruto de um aborto mal sucedido.
pastor Marcelo Crivela- Candidato a prefeitura do Rio de Janeiro.
22-10-2016
Tem um adesivo da OAB que diz''sem advogados não se faz justiça'' ,os professores deveriam criar um: '' sem professores não se faz porra nenhuma!''
Marlon- Príncipe maluco
'A Comédia Latino-Americana' tem temporada no Sesc Vila Mariana.
Montagem dos Ultralíricos tem Caco Ciocler, Caio Blat, Camila Márdila, Georgette Fadel, Julia Lemmertz e outras feras. Uma peça erótica, divertida e reflexiva.
O diretor Felipe Hirsch e os Ultralíricos encenam a segunda parte de seu projeto dedicado à literatura latino-americana, “A Comédia Latino-Americana”, no Sesc Vila Mariana, Os ingressos custam até R$40.
Dia 10-11 ás 19h
Informações:(11) 5080-3000
Satyros reestreiam 'Os 120 Dias de Sodoma', de Marquês de Sade.
Pornografia, tortura , homossexualidade e coprofagia marcam essa montagem teatral.
A montagem revela os planos de libertinos franceses que pretendem organizar uma orgia durante 120 dias entre eles homens,mulheres, casais e outros.Para maiores de 18 anos( contém cenas de nudez e sexo).
Praça Franklin Roosevelt, 134 Consolação São Paulo - SP (11) 3258.6345 / (11) 3231.1954
R$40 (inteira), R$20 (meia-entrada) e R$5 (moradores da Praça Roosevelt).
Dia 11-11-2016 ás 23h
Limitar os investimentos em saúde e educação é "cortar na carne" do trabalhador o futuro de seus filhos e sua saúde. Por que não cortar o salário dos deputados? Da verba absurda gasta no Congresso? Nos palácios?
Temer quer cortar o amparo assistencial ao idoso, amparo assistencial a pessoa com deficiência , pensão por morte e entre tantos despautério ele quer tornar crime manifestações publicas repudiando politicos e recentemente chamou a comunidade LGBT de complexada e barulhenta.
E nós continuamos a acreditar no mito de que o nosso voto tem algum valor ou poder. Me perdoa Brasil, mas eu quero descer . . .
Marlon-Principe maluco ex- eleitor
O romance de José Saramago A CAVERNA, ganha montagem teatral.
Dias 22 e 23 de outubro-2016.
18:00h.
Ingressos grátis.
Engenho teatral
R.Monte Serrat,120.
Tatuape.
Informações:11-968887748
Davi Sousa Lima, de 20 anos,acaba de ser encontrado morto com requinte de crueldade, apedrejado até a morte por suspeitos que entraram na casa do jovem e o levou a força para o Matagal , foi torturado e morto. O corpo estava com viários hematomas, amarrado e com uma corda no pescoço.
Francisco de Sousa Nascimento o único dos suspeitos que confessou a participação alegou que a prática homoafetiva é uma afronta a família tradicional Brasileira .
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro uma solidão pesada e um isolamento doloroso. Sou assim levado a pensar sempre numa pátria encantada que não conheço, e a sonhar com os sortilégios de uma terra longínqua que nunca visitei.
Sou um estrangeiro para minha alma. Quando minha língua fala, meu ouvido estranha-lhe a voz. Quando meu Eu interior ri ou chora, ou se entusiasma, ou treme, meu outro Eu estranha o que ouve e vê, e minha alma interroga minha alma. Mas permaneço desconhecido e oculto, velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.
Sou um estrangeiro para o meu corpo. Todas as vezes que me olho num espelho, vejo no meu rosto algo que minha alma não sente, e percebo nos meus olhos algo que minhas profundezas não reconhecem.
Quando caminho nas ruas da cidade, os meninos me seguem gritando: “Eis o cego, demos-lhe um cajado que o ajude.” Fujo deles. Mas encontro outro grupo de moças que me seguram pelas abas da roupa, dizendo: “É surdo como a pedra. Enchamos seus ouvidos com canções de amor e desejo.” Deixo-as correndo. Depois, encontro um grupo de homens que me cercam, dizendo: “É mudo como um túmulo, vamos endireitar-lhe a língua.” Fujo deles com medo. E encontro um grupo de anciãos que apontam para mim com dedos trêmulos, dizendo: “É um louco que perdeu a razão ao freqüentar as fadas e os feiticeiros.”
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e já percorri o mundo do Oriente ao Ocidente sem encontrar minha terra natal, nem quem me conheça ou se lembre de mim.
Acordo pela manhã, e acho-me prisioneiro num antro escuro, freqüentado por cobras e insetos. Se sair à luz, a sombra de meu corpo me segue, e as sombras de minha alma me precedem, levando-me aonde não sei, oferecendo-me coisas de que não preciso, procurando algo que não entendo. E quando chega a noite, volto para a casa e deito-me numa cama feita de plumas de avestruz e de espinhos dos campos.
Idéias estranhas atormentam minha mente, e inclinações diversas, perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis. À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos. E almas de nações esquecidas me fitam. Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso. Quando procuro segura-las, fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma...
Caminho na selva inabitada e vejo os rios correrem e subirem do fundo dos vales ao cume das montanhas. E vejo as árvores desnudas se cobrirem de folhas num só minuto. Depois, suas ramas caem no chão e se transformam em cobras pintalgadas.
E as aves do céu voam, pousam, cantam, gorgeiam e depois param, abrem as asas e viram mulheres nuas, de cabelos soltos e pescoços esticados. E olham para mim com paixão e sorriem com sensualidade. E estendem suas mãos brancas e perfumadas. Mas, de repente, estremecem e somem como nuvens, deixando o eco de risos irônicos.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos, e em versos o que a vida põe em prosa. Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria.
A polícia confirmou que o jovem Rafinha Silva foi morto hoje com 17 tiros, sendo que a maioria atingiu o rosto dele. Os bandidos ainda passam por cima da vítima com um carro e quando eles arrancam, o corpo ficou preso ao veículo e foi arrastado por cerca de uma quadra. A família do adolescente de 17 anos diz que o jovem nasceu menina, e recentemente assumiu identidade masculina e imediatamente começaram as ameaças.
Tenho aprendido muito com o jardim. Os girassóis, por exemplo, que vistos assim de fora parecem flores simples, fáceis, até um pouco brutas. Pois não são. Girassol leva tempo se preparando, cresce devagar enfrentando mil inimigos, formigas vorazes, caracóis do mal, ventos destruidores. Depois de meses, um dia pá! Lá está o botãozinho todo catita, parece que já vai abrir.
Pois como eu ia dizendo, depois que comecei a cuidar do jardim aprendi tanta coisa, uma delas é que não se deve decretar a morte de um girassol antes do tempo, compreendeu?
Algumas pessoas acho que nunca. Mas não é para essas que escrevo. “
Caio F. Abreu
"Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos… Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você.
Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que descartáveis. … E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura."
Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam? Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. ” Caio Fernando Abreu
A policia investiga o caso e declara que existe uma grande possibilidade do jovem ter sido morto por ser homoafetivo.
O crime aconteceu hoje a noite.
Os suspeitos ainda não foram localizados.
Meus sentimentos a todos os familiares e amigos. Que todos os anjos de luz o receba no plano celestial.
Marlon De Albuquerque
''As pessoas são lembradas pelos sentimentos que despertaram em nós, e quanto maior o sentimento, maior se torna a pessoa.''
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Caio Fernando de Abreu
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Em 2016, completam-se 20 anos sem o poeta Caio Fernando Abreu. Para marcar a data será realizada a Ocupação Caio Fernando Abreu - vinte anos depois, um colóquio com duas mesas que versarão sobre as múltiplas facetas desse artista.
Dia 19/10 - quarta - 19h
com: Claudia Abreu,Nelson Barbosa, pesquisador (IEB-USP) - A escrita autoficcional de Caio F.
Ricardo Augusto de Lima, professor (Universidade Estadual de Maringá-PR) - O teatro autoficcional de Caio F.
Informações:11-4003-1212
Para maiores de 18 anos( ingressos grátis)
Centro cultural São Paulo.
Teatro grátis para maiores de 18 anos( OSMO).
O personagem-título é um assassino que confessa seus crimes e sem remorso se coloca a filosofar, sobre a condição humana, morte e Deus.
Teatro Alfredo Mesquita.
Data: 21-10-2016
TEL:11-22213657
20H
Texto: Hilda Hilst
Adaptação: Donizete Mazonas
"A gente precisava conversar tanto e tanto, precisávamos organizar
um movimento, alguma coisa assim, sei lá, alertar as
pessoas para essa faixa de espírito em que estamos entrando
(em mim, essa coisa se manifesta também através do corpo:
fazer amor, agora, é um ato profundamente espiritual)."
Caio F, em carta a Hilda Hilst, 1971.
Pensei que amar era simples, mediante passado doente e futuro morto, penso que nunca conseguimos amar de fato o outro, o no máximo que conseguiremos é amar uma coisa que ele tem e nós precisamos?
Dificil demais quando mergulhamos em uma loucura mansa e achamos as respostas para tudo , mas ninguém faz as perguntas. E pior ainda é perceber que nosso sensível entendimento não cura as fomes do mundo de(AMPARO, GOIABADA E POESIA).
O verbo entender é vazio de garantias. A mim só resta louvar com resignação a minha mais nova desorganização.
Bom dia a todos os meus seguidores, leitores e amigos.
Odeio domingo, mas só me resta esperar que ele seja leve como flores que conseguem escapar das mãos sujas dos homens..
Marlon- Príncipe maluco
Sentimentos de orfandades tão comuns no mundo contemporâneo a nós humanos é o pior que podemos sentir!
As pessoas recebem mais flores depois de mortos, do que quando vivos, é a prova de que o remorso é maior do que o amor!
Saudades eternas( Muito amor envolvido)
Se houver uma palavra maior do que aplausos, recebam!
Meus avós =Dois amores!
Beijos!
Marlon- Príncipe maluco
A nossa humanidade falida nos lembra o todo tempo que o outro que caminha ao nosso lado cheio de feridas nos recorda o que somos, com esse confronto não sabemos lidar daí nasce o nosso desprezo. Quando sofremos ou choramos somos todos iguais. Sábios e ignorantes, mestres e alunos, inocentes e culpados, ricos e pobres, famosos e anônimos, torturados e torturadores, somos todos iguais.Marlon- Príncipe maluco
Somos como rios. Um rio só chega ao mar depois de ter encontrado outros rios pelo caminho. É mixórdia do percurso, quando na solidariedade de encontros o rio vai se agigantando, deixando de ser só, tornando-se outro. Essa analogia nos faz bem, se entendemos o avesso dela. Marlon- Príncipe maluco
Todas as manhas eu acordava, escovava os dentes, fumava e logo ia pensar em você sofrer por você. Eu ficava encabulado como depois de tanto tempo sem te ver você ainda me fazia senti tanto e tanto mais e mais. Todas as manhãs eu acordava feliz e seguia rumo a minha poltrona velha para cumprir o meu oficio de sofrer. Todas as manhãs eu acordava e acender um cigarro era uma tentativa involuntária de acender alguma recordação minha dentro de você. Todas as manhãs seu nome já estava escrito na fumaça do cigarro, antes mesmo de eu acende-lo.Todas as manhãs eu acordava e com ela eu tinha de Deus a liberdade de um pensar penoso que nada tirava de mim a não ser o pesar das esperanças. Todas as manhãs eu acordava e via seu nome escrito nos primeiros raios de sol, mas o sol não era meu e quem sofria era só eu. Eu seria capaz de jurar pelo Deus mais lindo do mundo que todas as manhãs seriam iguais, mas hoje acordei fui de mansinho acender meu cigarro, olhar os raios de sol e logo que sentei para sofrer a gloria de ser somente seu no inferno da poesia cotidiana ,tomei um susto, vasculhei cada canto da minha alma empoeirada e nada de te encontrar, não havia se quer um punhado de você dentro de mim. Logo chorei por dentro e só por dentro a sina luxuosa de ser vitima do esquecimento. Louvado seja Deus que inventou a palavra fim. Marlon- Príncipe maluco
Que seja doce o dia quando eu abrir as janelas e lembrar de você. Que sejam doce os finais de tardes, inclusive os de segunda-feira quando começa a contagem regressiva para o final de semana chegar. Que seja ligações a espera pelas mensagens, ligações e recadinhos bonitinhos. Que seja (mais do que) doce a voz ao falar no telefone. Que seja doce o seu cheiro. Que seja doce o seu jeito, seus olhares, seu receio. Que seja doce o seu modo de andar, de sentir, de demonstrar afeto. Que sejam doces suas expressões faciais, até o levantar de sobrancelha. Que seja doce a leveza que eu sentirei ao seu lado. Que seja doce a ausência do meu medo. Que seja doce o seu abraço. Que seja doce o modo como você irá segurar na minha mão. Que seja doce. Que sejamos doces...
Caio Fernando Abreu
Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita coisa, mesmo sem perceber. Você tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique.
Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão.
Caio Fernando Abreu
Eu preciso muito, muito de você. Eu quero muito, muito você aqui de vez em quando nem que seja, muito de vez em quando. Você nem precisa trazer maçãs, nem perguntar se estou melhor. Você não precisa trazer nada, só você mesmo. Você nem precisa dizer alguma coisa no telefone. Basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio. Juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro. Mas eu preciso muito, muito de você.
Caio Fernando Abreu
Que seja doce o dia quando eu abrir as janelas e lembrar de você. Que sejam doce os finais de tardes, inclusive os de segunda-feira quando começa a contagem regressiva para o final de semana chegar. Que seja ligações a espera pelas mensagens, ligações e recadinhos bonitinhos. Que seja (mais do que) doce a voz ao falar no telefone. Que seja doce o seu cheiro. Que seja doce o seu jeito, seus olhares, seu receio. Que seja doce o seu modo de andar, de sentir, de demonstrar afeto. Que sejam doces suas expressões faciais, até o levantar de sobrancelha. Que seja doce a leveza que eu sentirei ao seu lado. Que seja doce a ausência do meu medo. Que seja doce o seu abraço. Que seja doce o modo como você irá segurar na minha mão. Que seja doce. Que sejamos doces...
Caio Fernando Abreu
Há dez anos, Portugal despertava para a crua realidade da intolerância e do ódio contra os homossexuais. O assassinato de uma transexual no Porto chocava a sociedade. Agredida e violada sistematicamente por 14 adolescentes durante dias, seu corpo foi encontrado no fundo de um poço de 15 metros. A vítima: Gisberta Salce Junior, uma imigrante brasileira de 45 anos.
Gisberta transformou-se em símbolo da discriminação múltipla: imigrante ilegal, transexual, prostituta, sem-teto e soropositiva. Seu assassinato causou um profundo impacto na sociedade portuguesa. Gerou o debate sobre a transfobia, mudou o olhar para as questões da igualdade de gênero. Abriu o caminho para transformações que garantiriam maior inclusão e direitos aos homossexuais e transgêneros.
"O assassinato da Gisberta estabeleceu um antes e um depois em Portugal. Mudou a maneira como a sociedade olhava para as mulheres trans, mudou o modo como a imprensa cobria os transexuais, estimulou a criação de leis que tratassem da igualdade de gênero", afirma à BBC Brasil o ativista português Sérgio Vitorino, do movimento social Panteras Rosa.Nos anos que se seguiram à morte da brasileira, em 22 de fevereiro de 2006, o legislativo português criou uma série de leis voltadas para a igualdade de gêneros, com o objetivo de garantir a pessoas trans maior acesso à Justiça, à educação e ao emprego. Além disso, foi aprovada a concessão de asilo a transexuais estrangeiros em risco de perseguição.
"Portugal transformou-se num dos países mais avançados do mundo no tratamento à igualdade de gênero. As leis criadas nos últimos 10 anos possibilitaram que um número grande de homens e mulheres trans conseguissem se integrar à sociedade", explica Nuno Pinto, investigador do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e diretor da associação lusa Ilga (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgênero).
Medo da violência
Gisberta nasceu Gisberto, em São Paulo, caçula de uma família com oito filhos. Ainda na infância dava sinais de que estava num corpo que não correspondia à sua identidade de gênero. Após a morte do pai, confessou à família, ainda na adolescência, que gostaria de ser mulher. Aos 18 anos, com medo da crescente violência contra transexuais na capital paulista, optou por se mudar para a França.
Mais tarde, já depois de realizar tratamento hormonal e fazer implante de silicone nos seios, Gisberta mudou-se para o Porto, no Norte de Portugal. Rapidamente enturmou-se na cena gay local. Fazia apresentações de transformismo em bares e boates. A vida como artista, contudo, não gerava dinheiro suficiente para pagar as contas. Como complemento de renda, recorreu à prostituição.
A imigrante brasileira possuía visto de residência e adaptou-se à vida em Portugal. Os contatos com a família eram raros. Com o passar dos anos, no entanto, sua situação começou a se deteriorar.
Os sinais no corpo de que era portadora do vírus HIV impossibilitaram a brasileira de se sustentar pela prostituição. O nome masculino e o corpo de mulher impossibilitavam que obtivesse trabalho. Desempregada, não conseguiu renovar o visto de residência e passou ao status de imigrante ilegal. Sem dinheiro para pagar as contas, teve de deixar o apartamento em que morava no Porto.
Depois de passar por alguns hospitais para tratar de doenças provocadas pela Aids, encontrou abrigo em um prédio em obras abandonado no Porto. No fim de dezembro de 2005, três adolescentes começaram a frequentar o edifício para pichar suas paredes. Um deles reconheceu Gisberta, que havia improvisado um barracão com seus pertences no local, agora seu lar.
Filho de uma mulher que se prostituía, Fernando conheceu Gisberta quando tinha a idade de 6 anos e ficava aos cuidados de uma babá que amparava crianças nessa situação. A brasileira era conhecida dessa babá e passou a relacionar-se com a mãe do garoto.
Fernando e seus dois amigos frequentavam a escola e uma instituição administrada pela Igreja Católica chamada Oficina de São José. As visitas passaram a ser regulares, e Gisberta confidenciou que estava debilitada pelo HIV e o consumo de drogas 'pesadas', em especial cocaína. Comovidos, eles passaram a levar comida para ela e chegaram até mesmo a cozinhar no prédio abandonado, segundo consta no processo que tratou do crime.
Algum tempo depois, os garotos contaram a colegas sobre Gisberta, que descreveram como "um homem que 'tinha mamas' e 'parecia mesmo uma mulher'". As visitas, que até então eram solidárias, transformaram-se num incompreensível ato de violência extrema e gratuita. Os 14 jovens – entre os 12 e os 16 anos – dividiram-se em grupos que revezavam-se para espancar, violentar e humilhar a brasileira.
Durante três dias, Gisberta foi agredida a pedradas, pauladas e chutes. Foi sexualmente torturada com o uso de pedaços de madeira e teve o corpo queimado com cigarros. Entre 21 e 22 de fevereiro, os jovens voltaram ao prédio abandonado. A brasileira não respondia a qualquer estímulo. Ao julgarem que estava morta, planejaram como desaparecer com o corpo.
Primeiro pensaram em queimá-lo, mas desistiram por medo de que a fumaça atraísse a atenção de seguranças que trabalhavam num parque próximo. Depois imaginaram enterrá-lo, mas não tinham as ferramentas necessárias. Então, optaram por atirá-la ao fosso do prédio, que estava cheio de água. Gisberta estava inconsciente, mas ainda viva. Morreu afogada.
O corpo de Gisberta foi descoberto no mesmo dia. Um dos adolescentes confessou o crime a uma professora da escola em que estudava. No dia seguinte, os jornais tratavam do assassinato do "travesti" e do "imigrante sem-teto" no Porto.
O caso ganhou proporções inéditas na mídia e na sociedade portuguesas nos meses seguintes. Associações de defesa dos direitos dos homossexuais organizaram manifestações pelo país e fizeram vigília em frente ao prédio onde Gisberta fora assassinada. A imprensa acompanhava todos os desdobramentos do caso, enquanto lutava contra os próprios estereótipos sobre os transexuais.
"No começo, para a imprensa a Gis era 'o Gisberto', um trans soropositivo morto. Não havia fotos dela nas reportagens, apenas os estereótipos. Nós fizemos uma campanha, conseguimos fotos e distribuímos para os jornais e TVs. Foi assim que ela ganhou uma cara, foi humanizada e passou a ser tratada melhor com o passar dos meses", conta Sérgio Vitorino.
A autópsia do corpo da brasileira confirmou lesões na cabeça, pescoço, membros inferiores e superiores, laringe e traqueia, abdômen, intestinos e rins. Além disso, identificou múltiplas equimoses, infiltrações hemorrágicas, escoriações e infiltrações sanguíneas. Mas a causa mortis foi afogamento, o que ajudou os acusados.
Os menores, que antes tinham sido acusados de homicídio qualificado, tiveram a acusação alterada para ofensas corporais qualificadas. O único que poderia ser julgado como adulto foi o mais velho, que tinha 16 anos - mas o restante do grupo testemunhou que ele apenas assistiu às agressões, mas não chegou a participar.
Ele, então, foi condenado a oito meses por omissão de auxílio, ou seja, por não ter ajudado a uma pessoa que corria risco de morte. Entre julho e setembro de 2007, apenas um ano e meio após o assassinato, todos estavam livres.
"O juiz disse, textualmente, que o assassinato foi 'uma brincadeira de mau gosto de crianças que fugiu ao controle'. Gisberta foi amarrada em um pedaço de madeira e atirada ao fosso, mas o julgamento, no fim, determinou que quem a matou foi a água, e não as pessoas que a atiraram lá", recorda Vitorino.
A frustração com o resultado do julgamento mobilizou os movimentos em defesa da igualdade de gênero. Leis de proteção a homens e mulheres trans foram aprovadas. Desde 2011, para que uma pessoa consiga mudar o nome e gênero em seus documentos basta um parecer médico.
No Brasil, a cirurgia de troca de sexo não é necessária, mas a alteração não é tão simples. É preciso ter laudo psiquiatra e psicológico, além do testemunho de amigos de que a pessoa é tratada pelo nome que escolheu.
"Nos últimos anos, Portugal passou a enxergar os transexuais com um olhar humano. Quando vemos uma notícia sobre homens e mulheres trans na mídia, na maior parte dos casos é sob a perspectiva dos direitos humanos. Ainda existe um longo caminho a percorrer em muitos aspectos, mas houve uma evolução notável nessa última década", avalia Nuno Pinto.
"Claro que o caso Gisberta tem um papel de destaque nessas mudanças. A história dela está presente no fortalecimento da causa LBGT em Portugal, no amadurecimento da mídia, nas leis que foram aprovadas. Houve um antes e um depois da Gisberta", avalia Vitorino.
A história da brasileira foi transformada em peça de teatro, em documentário e na canção Balada de Gisberta, composta pelo português Pedro Abrunhosa e interpretada por Maria Bethânia.
Seu corpo está enterrado em São Paulo. Mas sua presença ainda é marcante em Portugal, onde se transformou numa bandeira para a igualdade de gênero e os direitos humanos.
Cientistas britânicos acabam de desenvolver um tratamento que provavelmente poderá ser o tão esperado tratamento definitivo para curar efetivamente os portadores do vírus HIV. Há muito que já se especulava acerca de prováveis curas, até mesmo com métodos nada convencionais e sem comprovação científica.
Entretanto, neste ano, recebemos uma boa notícia! Pesquisadores de cinco das principais universidades britânicas, junto com a NHS (Sistema de Saúde Britânico) acabam de desenvolver um tratamento pioneiro, ainda em fases de teste, claro. 50 pacientes portadores do vírus HIV foram submetidos ao tratamento. Ao examinar um dos 50 pacientes, não fora encontrado nenhum traço do vírus em seu sangue, o que pode apontar um provável sucesso no experimento. Mas como todo cientista realmente competente e responsável, eles afirmam ainda ser cedo para constatar se a cura foi de fato efetiva. Ainda precisará passar por um longo período de acompanhamento para constatar se de fato o paciente está curado, ou se o vírus estava apenas adormecido.
O tratamento consiste em 3 etapas:
1-Administração de medicamentos anti-retrovirais para prevenir que as células T – células do sistema imunológico infectadas pelo vírus – continuem expelindo milhões de cópias do vírus.
2-Infectar os pacientes com um vírus que estimula o sistema imunológico, dando-lhe a capacidade de encontrar e destruir as células T infectadas.
3-Administrar no paciente um segundo medicamento conhecido como vorinostat que ativa as células T dormentes, forçando-as a expressar proteínas associadas ao HIV e sinalizando-as ao sistema imunológico que pode, em seguida, destruí-las. Esta técnica tem sido chamada de estratégia ‘chutar e matar’ (tradução livre do inglês ‘kick and kill’).
O objetivo desse tratamento é remover todos os traços do vírus no corpo do paciente, incluindo as células reservatório (células que servem como incubadoras dos vírus). É justamente a presença dessas células reservatório, que dificulta ainda o diagnóstico final de cura, pois as mesmas podem guardar formas dormentes do vírus por um longo período de tempo, até mesmo muitos anos, que depois se reativarão, reiniciando a infecção.
Em seu depoimento, o paciente que assou pelo exame afirma:
“Seria ótimo se a cura tivesse acontecido. Meu último exame de sangue foi há algumas semanas e não foi encontrado nenhum vírus. No entanto, isso pode ser resultado da terapia anti-retroviral, por isso é necessário esperar para ter certeza”, disse o paciente, de 44 anos de idade, ao jornal inglês The Sunday Times.
Mesmo que ainda leve um certo tempo para que esta possa de fato se tornar uma terapia real e viável, finalmente traz uma luz de esperança para as pessoas que convivem diariamente com a infecção e precisam se submeter aos tratamentos de coquetéis anti-retrovirais.
Acredito que nos próximos 5 ou 10 anos, se esta terapia for realmente aprovada, finalmente o terror do destino que geralmente abate essas pessoas, poderá chegar ao fim. Marlon
Eu preciso muito, muito de você. Eu quero muito, muito você aqui de vez em quando nem que seja, muito de vez em quando. Você nem precisa trazer maçãs, nem perguntar se estou melhor. Você não precisa trazer nada, só você mesmo. Você nem precisa dizer alguma coisa no telefone. Basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio. Juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro. Mas eu preciso muito, muito de você.
Caio Fernando Abreu
Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita coisa, mesmo sem perceber. Você tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique.
Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão.
Caio Fernando Abreu