Surpresa

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terça-feira, 22 de setembro de 2020

― Caio Fernando Abreu, Os Dragões não Conhecem o Paraíso


 

“Tenho um dragão que mora comigo.
Não, isso não é verdade.
Não tenho nenhum dragão. E, ainda que tivesse, ele não moraria comigo nem com ninguém. Para os dragões, nada mais inconcebível que dividir seu espaço - seja com outro dragão, seja com uma pessoa banal feito eu. Ou invulgar, como imagino que os outros devam ser. Eles são solitários, os dragões. Quase tão solitários quanto eu me encontrei, sozinho neste apartamento, depois de sua partida. Digo quase porque, durante aquele tempo em que ele esteve comigo, alimentei a ilusão de que meu isolamento para sempre tinha acabado. E digo ilusão porque, outro dia, numa dessas manhãs áridas da ausência dele, felizmente cada vez menos freqüentes (a aridez, não a ausência), pensei assim: Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma que precisam da ilusão de Deus. Da ilusão do amor para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta; da ilusão de Deus, para não se perderem no caos da desordem sem nexo.
Isso me pareceu grandiloqüente e sábio como uma ideia que não fosse minha, tão estúpidos costumam ser meus pensamentos. E tomei nota rapidamente no guardanapo do bar onde estava. Escrevi também mais alguma coisa que ficou manchada pelo café. Até hoje não consigo decifrá-la. Ou tenho medo da minha - felizmente indecifrável - lucidez daquele dia.”


― Caio Fernando Abreu, Os Dragões não Conhecem o Paraíso

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Eu com cinco anos, me preparando para minha precária vitória humana

O mundo não meu deu espaço para estacionar meu amor, meu carro, meu ser. O inferno são os outros.
Esconder minha sexualidade quando criança me tortura até hoje
Quando criança, eu era muito cuidadoso com meus livros e cadernos. Usava canetas diferentes para perguntas e respostas e criava símbolos para itens. Minha letra era redonda e bonita. Era um dos meus orgulhos numa vida que ainda havia pouco do que se orgulhar. Até que um dia disseram que minha letra era de menina…
Eu havia sido descoberto.
Entre tantos detalhes tentando fingir ser igual aos outros, eu deixei passar aquele pequeno detalhe: a letra. Passei a enfeiá-la e a ser descuidado com meu caderno.
Essa foi a primeira vez de tantas outras que fui ‘descoberto’ e tentei me cobrir. Uma criança. Uma pobre criança tentando esconder um segredo que ela não havia criado. Um segredo que nasceu semente junto a ela, e aos poucos floresceu.
Uma criança que tentava modificar sua voz, seu jeito, seus gostos. Tentava evitar que aquela flor que nasceu com ela ficasse frondosa e os outros percebessem.
Durante meu processo de autoconhecimento durante síndrome do pânico, essa foi uma das coisas que vieram à tona. O quanto esconder minha sexualidade desde criança agravou minha ansiedade.
Vim de uma família religiosa, então era comum em sermões da igreja ouvir reprimendas quanto a ser homossexual. Pequeno ainda não compreendia o termo relacionado à sexualidade, mas percebia que era vítima de piadas quando ‘desmunhecava’, ou queria fazer ‘coisas de menina’.
Eu me sentia tão diferente dos meninos de minha escola. Fazer educação física com eles, ou ter que participar de atividades ‘de meninos’ era desgastante. Tentar jogar futebol me embrulhava o estômago e tantas vezes tive que criar doenças para faltar a esses eventos.
Minha mãe me recriminou por brincar de boneca e casinha com coleguinhas. Até hoje minha mãe diz que o destino de todos homoafetivos é ser velho, abandonado, doente, sozinho e defasado emocionalmente. Mesmo quando ela não diz eu sei que pensa. Mas eu não sentia a mínima vontade de brincar com meu irmão e seus robôs, ou ver com eles animes japoneses violentos, ou filme de ação com meu pai.
Durante esse processo em que eu não podia fazer o que gostava e nem me interessava fazer o que eles queriam, eu fui me fechando. Tornei-me um menino introvertido e amedrontado. Que calava o que sentia. Que escondia quem era. Sem pertencer a um mundo.
Fugi.
Eu lia, lia muito. Lia mil livros. Criava mil histórias. E estudava.
Na minha primeira sessão pós ataque de pânico o analista perguntou-me: do que afinal eu fugi? Por que eu me martirizava tanto para estudar e ser melhor do que todos?
Antes eu pensava que eu estudei tanto para ser rico. No momento em que tive dinheiro percebi que não. Não comprei carro, apartamento. Nada disso me interessa ou enche meus olhos. Não sou nem um pouco materialista.
Mesmo assim aquela ansiedade infantil ainda me matava. Aquela vontade de fugir. Então enxerguei o quanto eu fui torturado. Eu tive que estudar para um dia fugir daquela minha cidade de 20 mil habitantes. Eu tinha que fugir para um dia poder ser quem eu era.
Eu consegui meu intento mas ainda me escondia. Tinha vergonha de ser eu.
Continuei lendo para fugir. Estudando para ter recursos para fugir. Escrevendo tanto para criar novos mundos e poder fugir.
E para qualquer lugar que eu fugisse, a angústia me acompanhava. Por que ela estava dentro de mim. E essa angústia voltava crescer, após o rápido alívio da fuga. Crescia, crescia até que eu a vomitava e enchia o ‘novo lugar’ com toda minha incompletude e insegurança.
Passei tanto tempo fingindo ser outra pessoa, sem poder ser eu que de alguma forma não sei como ‘ser eu’. Não me identifico com as coisas. Não me sinto em casa. Sinto-me amado e querido por tantas pessoas mas não consigo sentir o mesmo por elas.
Eu ainda sou aquela criança que se sente deslocada em todos lugares. Que se sente deslocada dentro do próprio corpo. Eu cresci mas ainda não pertenço a ninguém e a lugar algum.
Talvez as coisas fossem diferentes se eu não tivesse precisado fugir. Se eu tivesse o apoio necessário para me orgulhar da minha exótica afetividade e sexualidade . Pudesse fazer parte do grupo das meninas. Desenvolvesse minhas habilidades de relacionamento desde a adolescência.
Mas essa não é minha história.
E eu tenho que parar de fugir.
Só quando eu parar e olhar para mim mesmo, vou poder me despedir daquela criança ansiosa e com medo de viver e amar.
O que me dói é saber que essa minha tortura é igual a de tantas outras milhares de crianças. Tantas outras que fingem ser algo que não são. E desenvolvem problemas psicológicos que vão carregar para o resto da vida.
Até quando torturaremos nossas crianças para serem aquilo que não são? Quando vamos perceber que nossa felicidade depende, antes de tudo, de sermos o que queremos ( e nascemos) pra ser? Quando vou libertar a criança que um dia eu fui e dizer para ela que não há problema em ser desse jeito… Desse jeitinho. Pode ser uma flor se quiser. E ter a voz mais fina do mundo e uma alma toda cor de 🌹 rosa dentro da minha precária vitória humana. 🤴 Príncipe Marlon

 

sábado, 19 de setembro de 2020

Te espero carinhosamente



 

Dúvida: Existe alguma maneira de diminuir a sensibilidade na glande?

Dr. Jairo Bouer: Essa pergunta é bem comum, alguns garotos costumam se queixar de uma sensibilidade maior na glande, que é a cabeça do pênis. Essa é a parte mais sensível do pênis, mesmo, e pode ficar mais ainda nos homens que têm o prepúcio, aquela pele que recobre a glande. Em alguns casos, isso provoca incômodo ou até dor, atrapalhando as relações sexuais. 

Se existe alguma irritação local, com dor, coceira ou descamação, é importante consultar o urologista, porque pode ser o caso de uma balanite (uma inflamação na glande), ou uma balanopostite (inflamação na glande e no prepúcio). Pode ser o caso de uma infecção causada por micro-organismos, como a candidíase.

Também pode ser uma irritação causada por sabonetes ou cremes. O tratamento vai depender da causa, e só o médico pode fazer o diagnóstico.

Já se a sensibilidade é algo frequente, que não tem a ver com inflamação ou infecção, existem algumas opções: 

– o uso da camisinha pode ajudar bastante, porque a barreira protege a glande do atrito;

– alguns médicos recomendam medidas como passar uma esponja suave durante o banho, com cuidado, com carinho, até que a glande vá ficando mais resistente;

– a cirurgia de fimose, para a retirada do prepúcio, também pode ser indicada para esses casos de sensibilidade. Com a glande exposta, a pele vai ficando um pouco mais grossa e a sensibilidade diminui.


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Clarice Lispector

 Clarice Lispector confidenciou a uma amiga que durante o refúgio de sua família na Ucrânia, sua mãe, Mania Lispector, fora estuprada e, do ato horrendo, adquiriu sífilis. Elisa Lispector, irmã de Clarice, escreveu em seu romance “No Exílio”, que o trauma decorrente da violência deixou marcas psicológicas e físicas durante toda a vida de Mania. Clarice nasceu um ano após o estupro de sua mãe, e anos depois escreveu sobre isso:

“Fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada com amor e esperança. Só que não curei minha mãe.
(…) Sei que meus pais me perdoaram eu ter nascido em vão, e tê-los traído na grande esperança. Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe.”
"Clarice Lispector- uma Biografia".
Benjamin Moser.



Clarice Lispector confidenciou a uma amiga que durante o refúgio de sua família na Ucrânia, sua mãe, Mania Lispector, fora estuprada e, do ato horrendo, adquiriu sífilis. Elisa Lispector, irmã de Clarice, escreveu em seu romance “No Exílio”, que o trauma decorrente da violência deixou marcas psicológicas e físicas durante toda a vida de Mania. Clarice nasceu um ano após o estupro de sua mãe, e anos depois escreveu sobre isso:
“Fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada com amor e esperança. Só que não curei minha mãe.
(…) Sei que meus pais me perdoaram eu ter nascido em vão, e tê-los traído na grande esperança. Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe.”
"Clarice Lispector- uma Biografia".
Benjamin Moser.Clarice Lispector confidenciou a uma amiga que durante o refúgio de sua família na Ucrânia, sua mãe, Mania Lispector, fora estuprada e, do ato horrendo, adquiriu sífilis. Elisa Lispector, irmã de Clarice, escreveu em seu romance “No Exílio”, que o trauma decorrente da violência deixou marcas psicológicas e físicas durante toda a vida de Mania. Clarice nasceu um ano após o estupro de sua mãe, e anos depois escreveu sobre isso:
“Fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada com amor e esperança. Só que não curei minha mãe.
(…) Sei que meus pais me perdoaram eu ter nascido em vão, e tê-los traído na grande esperança. Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe.”
"Clarice Lispector- uma Biografia".
Benjamin Moser.
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Mauricio Mellone Favo, Eddy Luem Cruz e outras 7 pessoas
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