Pagamos para nascer, pagamos para morrer, pagar, pagar e pagar será mesmo que a vida é só isso?
Sinto-me Cansado,
cansado, cansado, cansado, cansado de pagar boquete, pagar promessas, pagar
contas e pagar pedágio por cada dia de vida.
Sou fumante e por isso nunca mais vou te visitar,
não quero matar de câncer às paredes do seu lindo triplex.
No mundo não tem espaço para eu estacionar meu
carro, meu amor e meu ser molhado de chuva falsamente redentora.
Bebo uísque na busca de fé, esperança e amor,
embora eu saiba que enquanto houver uísque haverá também fé, esperança e a dor.
Dispenso a gramática a ortografia e vou seguir
daqui para frente apenas a idéia.
A vida é apenas um truque que a morte usa para
atravessar gerações.
Éramos pipoca com leite condensado, brigadeiros, guerra
de travesseiros. Éramos dois, três, tantos agora sobrou apenas eu e minhas circunstâncias.
Se eu invento livros, bolos e gente, quem me
garante que também não estou inventando tudo isso?
Não
sei se bato palmas ou acendo uma vela. Sábado eu vou
à rua: Augusta em busca de drogas, parafilias, e DST, s. O que mais me deprime
na Augusta é quando os tatuados resolvem contar o significado das tatuagens.
Fui jogado aqui a esmo, ninguém me explica nada.
Voei pendurado nas asas de um pássaro de fogo, apenas para fugir
do meu mundo brutal e sem sal.
É verdade que depois do começo, tudo que vier vai começar a ser o
fim?
Cachorro é nojento, e o poeta nos ensina a resignação fingida, mas
suas ,roupas intimas, sou eu quem lavo.
Em São Paulo com mil reais vocês comem o cu de quem quiser, se for
na rua augusta então basta cem. Dinheiro na mão, cueca no chão. Essa é a lei.
Cortaram minha água, minha
luz e a cada dia fica mais difícil pagar o aluguel, acho que vou precisar
vender os livros, ou a alma, ou o corpo sem jovialidade.
Retalhos de sentimentos costurados no tecido do meu corpo.
Deus criou Jesus, Maria e o espírito santo, mas me diga de uma vez por todas antes que eu coloque fogo nesse apartamento quem criou Deus?
Andei um pouco pela rua augusta, antes de sair perguntei a
meu porteiro, para onde vamos quando morremos, ele disse vou pensar, voltando
da rua te respondo.
Na rua augusta vi um monte de gente triste,
sem brilho nos olhos.
Penso que a multidão de gente triste e pequena
que vi, pode ser eu apenas eu desolado pela vida que me negou um banho de luz
para que eu pudesse ir ao encontro do Deus.
Andando sem rumo, de repente me vi cheio de
amor e caridade para comigo e todas aquelas pessoas.
Ainda tenho esperança, mas continuar sem fé é
um convite irresistível para o suicídio. Cada palavra escrita é um suicídio
adiado.
O peito de repente é invadido pelo lado mais
macabro do amor, se é que o amor tem outro lado. O amor matou todos os símbolos que me
emprestavam asas. Logo as velas que havia em meu coração se apagaram e me dei o
direito ao pranto.
O coração sangra e a alma chora.
Choro por amor todos os dias, porque seu
começo e seu fim estão costurados no mesmo tecido.
Você já chorou por amor?
A minha volta tudo
tão sujo, desorganizado e velho assim como meu coração que te escreve fadado a
nunca saber o por que.
Eu, não tenho família, amores e odeio
cachorros, mas tenho um pouco de grana para sobreviver e comer umas putas com o
que sobra.
Você já morreu de amor? Odeio a sua mudez.
Senhor, senhor está cada vez mais difícil
escrever, mas mesmo assim vou tentar continuar, de modo, que não escrevo por prazer,
apenas para evitar a crise de abstinência.
Você já matou por amor? Se não, saiba que
nunca é tarde.
Às vezes no escuro do meu quarto eu penso em
Daniela, ela me lambia inteiro antes de dormir, como gatinho bebendo leite no
pires. Era exatamente igual. Mas nada daquilo era amor e no ano passado ela
morreu em um desastre de avião. Bem feito, ela vivia confundindo liberdade com
estado civil. Confesso muitas vezes sinto um aperto no peito, penso que é
saudade do balé do seu corpo em minhas digitais.
Nada daquilo era amor, ela se foi e deixou seu
cheiro de ternura e carinho apodrecido.
Faço força para manter meu coração ativo.
Passei em um bar e entre um bilhar e outro uma mocinha chupou
meu pau no banheiro e eu gozei em sua boca e ela engoliu tudo. Eu não quis
saber sua idade, sua cidade, nada dela me interessava mais.
Eu estava com um raciocínio ótimo, comecei a
escrever e tudo virou uma bosta.
Voltei para casa, na augusta não tem sol e
isso me mata.
Voltando perguntei novamente ao porteiro, para
onde vamos quando morremos, ele disse para o cemitério.
Sabia que você pode morrer hoje ou amanhã? Eu
estou me preparando para o sopro final, e você?Penso que não porque se assim
fosse, o mundo seria bem mais colorido e menos dolorido.
Ao entrar no meu quarto tinha garrafas de
uísque vazias, pontas de cigarros espalhado por todos os cantos e um cheiro de
maconha insuportável.
Vesti minha roupa de príncipe, acendi uma vela
para santa Clara, sentei ao lado da vela e pensei: talvez eu tenha sido amado,
ou eu tinha alguma coisa que por egoísmo elas precisassem.
Nunca, nunca, nunca fui amado da maneira que necessito
ser amado.
Levantei peguei um pedaço de carvão que estava
dentro de um copo virgem, para trazer boas noticias e com o carvão eu escrevi
na parede: Amor é mentira.
Essa era a minha vingança contra um Deus todo
poderoso e meu destino pavoroso.
A luz de vela na poltrona velha perto da cama
estava lá o inimigo de Deus. Ele logo estendeu as mãos para mim.
Mas o que afinal ele queria de mim?
Para onde ele me levaria, pois nunca tive
interesse pelo inferno e o paraíso, ele não tinha a senha.
Caminhei em sua direção e logo a vela se
apagou sozinha, novamente acendi a vela, mas ele já tinha partido ou meu
pensamento infeccionado inventou tudo isso.
Deus foi brutal comigo, não me permitiu
revelas para o mundo que meu coração é o quintal de minha casa.
Deus roubou todas as minhas dezenas de amores,
e como se não bastasse abortou meu canto mais bonito, ainda na maternidade.
Nada nesse mundo é mais afrodisíaco do que um
ser inteligente. O poeta me contou.
No ano passado fui a uma danceteria na Alemanha e tocaram
Canto de areia- Clara Nunes. Dancei , dancei, dancei totalmente entregue a uma
alegria quase suicida. Vamos dançar?
O que nos mantém vivos é a certeza e a
liberdade de colocar fogo no circo, e não precisar conviver com a fumaça.
Eu sou um vendedor de dores, de modo que sou
apaixonado pela vida e pela morte com igual fervor.
Solidão é tristeza em Braille.
Não acredito em bruxas, mas sei que elas
existem.
Entre dois que se amam e perpetuaram esse
amor, há sempre um punhal, preparado para sua única função.
Da janela do meu quarto eu gritava pelo afago
de um Deus, ou um copo de cachaça.
Não se preocupe com a morte ela é tão vulgar,
que sempre leva primeiro crianças, negros, gays, pobres e mulheres.
Meus mais de mil livros não suporto mais, meus
discos também, até o espelho de meu quarto quebrei com uma cuspida violenta.
Se eu não fosse poeta, o que eu seria? Talvez
feliz.
Deus estava decidido a me fazer beber até o
fim meu cálice de erros.
No coração da mulher traída habita todos os demônios.
Sou um pássaro de asa quebrada.
Os príncipes também choram?
No meu lindo tumulo quero escrito (não aprendi
dizer adeus).
Com as mãos sujas de carvão e cera de vela eu
me rendo e declaro aqui que toda família tem putas, cornos, gays, drogados,
ladrões, quem vai levanta a mão primeiro, você? Ou eu?
Depois que mataram meu grito, o mundo teria
que virar de cabeça para baixo para eu voltar a caber dentro dele.
Ainda não perdi a esperança, a gente nunca perde o que
nunca teve.
Sou livre por dentro e por fora, ontem peguei
na rua alguém para fuder comigo, acordei a pessoa já havia partido, não me
lembro se era homem, travesti, mulher, casal, cross-dressing ou outros.
Depois de me percorrer inteiro me dei o
direito de depois de meia noite transar com qualquer coisa que se mova.
Qual é o contrario do contrario da síndrome de estolcomo?
O homem não é outra coisa se não um cadáver
robótico feito para tornar o mundo caótico. Não falarei mais de amor, essa
palavra histérica nunca teve outro sentido que não fosse ilustrar a minha mais
genuína pobreza.
Ontem dei o cu com muita alegria, segundo a bíblia
Deus só ama quem da com alegria.
Depois fui para a missa e uma ninfeta talvez virgem
fez meu pau ficar duro três vezes. O padre falava, meu pau latejava, o padre
falava meu pau latejava, o padre falava meu pau latejava.
Somos tão frágeis que ao ouvir a palavra fim, muito
antes do final dela já estamos mortos.
Troco de sexo troco os pronomes, e troco de roupas
cem vezes por dia na mais antiga e frustrada tentativa de me localizar no
mundo.
Quero gargalhar por cinco minutos, eu começo e você
me acompanha, combinado?
Eu sou uma fraude, será que foi por isso que Deus
jogou meu pão na chuva? Responda porra.
Meu amor quando você partiu eu sofri tanto, chorei
tanto que nem sobrou tempo para lembrar que eu havia o perdido.
Todo cego é nobre.
Para todo rico existe um pote de pobreza a sua
espera e para todo pobre existe um pote de riqueza, mas nada disso é cem por
cento certo ao passo que Deus joga dados.
Comecei a fumar e escrever aos nove anos de idade
na mais inocente tentativa de cativar, seduzir e iluminar a vida, primeiramente
a minha própria vida.
Hoje escrevo apenas para regurgitar todo lixo que
por pura coincidência ou não a vida me obrigou a engolir.
Ultimamente ando o tempo inteiro engasgado com um
nó na garganta que só consigo fazer desce com uísque.
Aprendendo a me contentar com as migalhas que deus
derrama em minha boca com suas mãos amputadas para que eu não morra de fome e
solidão.
Penso que desaprendi a ser pessoa. É como se um
dragão invadisse meu quarto e com sua cauda de fumaça esmagasse toda minha fome
de viver.
Quando você é feliz, depois de tudo, o que sobra ai
dentro de todo esse maravilhamento? Responda caralho antes que eu te
estrangule.
Nunca mais terá a oportunidade de usar as minhas
imaculadas palavras para compor seu silencio infernal. Isso é um juramento.
Hoje me dei conta que não faço questão de mais nada
e com todo respeito do mundo, nada me interessa nem mesmo ser lido por você. O
que não me impede de ser grato se mesmo assim você o fizer.
Não sinta pena de mim, não antes de sentir pena de
si mesmo. Antes de me julgar você precisa pegar uma barata viva na mão sem
morre do seu mais terrível pavor, seu latente nojo de si mesmo.
Não tenho quem quero e gosto, mas vivo como quero e
gosto.
Não quero ser notado, quero ser anônimo e isolado,
somente assim conseguirei permanecer do meu lado.
Preservo em mim o dom de olhar todos os dias para a
mesma coisa e perceber nela elementos totalmente diferentes.
Odeio tanto o mundo, e com tanto fervor que até
consigo bravamente me vingar de mim mesmo com o que sobra desse ódio honrado.
Éramos, não somos mais, ÉRAMOS, essa palavra matou
a mim e somente no dia que eu tiver coragem de escrever casa com q de queijo (que
por sinal é o único alimento que eu desprezo) terei aprendido a escrever de
fato.
Sou feito de infância pisada, maldade enfeitada, tortura
alfabetizada e gentileza falsamente construída de feitiço e areia.
Siga sua vida louca regada de veneno e vinho e me
deixa seguir a minha vida oca celebrando a morte do que outrora era carinho.
Tenho dinheiro o suficiente para comer goiabada o
resto da vida e depois dançar para comemorar a minha tola vitória humana. A
única coisa que desejo é encontrar a senha que me permita ser aliado
incondicional de minha própria solidão. Sei que posso e consigo vencer a guerra
a fome e até a opressão que o mundo com sua colaboração finalmente conseguiu
naturalizar.
Agora mesma nesse exato momento estão matando
mulheres, bixas, pobres, negros, favelados e sapatão e até a mata e seus bichos
inocentes eu nada posso fazer de modo que se quer posso contar contigo que se
diz meu irmão.
Só terei paz de fato quando eu aceitar de forma resignada,
penitente e carinhosa a minha inevitável solidão sem permitir que ela me engula
antes do golpe final.
Os peixes são os bichos que mais se parecem
conosco, porque assim como nos estão sempre fugindo de alguma coisa. E assim
vamos seguindo refém da idéia de terra prometida, mergulhados na suave fuga adivinhada
até o dia em que definitivamente entendermos que a terra prometida nunca foi de
fato prometida.
Olho em minha volta vejo centenas de livros
espalhado pelo meu apartamento e na parede do meu ser escrevi a palavra éramos
e paralisado fico aqui refém dessa minha inesgotável incontinência verbal,
tentando e tentando e tentando me lembrar quando e onde perdi de vista a cura
do mundo. Ou simplesmente a cura do meu próprio mundo.
Queria pular em um abismo, mas para cima. Será
possível um dia?
Que o sol nos retire dos escombros dessa vida raquítica e
que possamos gozar junto do vôo mais bonito do mundo, nem que precisemos roubar
asas de borboletas mortas.
O apóstolo Paulo tinha um espinho na carne, e eu como posso
ter calma se tenho um espinho na alma?
Restou apenas eu, a palavra e a minha tão ilustrada
deficiência afetiva.
Nasci com uma leve e doce inclinação para o insano
do mundo, gosto de gente fraca, de bebida pirata, e de idéias marginais.
Sou refém de seres ‘’decadentes’’ porque esses já se deram todos os direitos do
mundo, inclusive de amar, com o coração, a pica, o cu a buceta e as palavras.
De que vale a mesa posta se os discípulos estão brigados?
De que vale o mar a frente se o barco está furado?
De que vale ter a senha se o cofre foi roubado?
De que vale o abraço, se o amor está cansado?
Do nada vem na mente a palavra cega e desejosa, tento
escrever e acabo me perdendo.
Agora vou fazer aquilo que até a ultima madrugada eu
julgava o pior dos pecados.
Talvez eu tenha que acarinhar esse meu ego que deseja a
morte dos palhaços!
Sentado nas bermas da estrada, no sol de meio dia, sem
saber se aquela felicidade que eu buscava em toda sua nudez era a verdadeira felicidade
ou a felicidade adivinhada.
Seu
canto é tóxico, estou falando do rapaz que divide apartamento comigo, ele me
ensinou a tomar posse do direito de deixar para amanhã, o que posso fazer hoje,
ele é poeta, prostituido, ladrão e drogado, como Jean Genet. Quando
ele era criança outras crianças enfiaram uma escova de cabelo em seu cu e giraram
vinte nove vezes.
Ontem ele cheirou tanto até Jesus voltar,
parece cocaína, mas é dor genuína, acabou morrendo, que Deus o tenha se
agüentar.
Odeio
crianças demoníacas também fui vitima delas.
Preciso de cigarros, goiabada e livros, somente por isso ainda escrevo. Escrevo para você, me recuso engolir meu próprio vomito.
Freud
dizia que todo ser humano é bissexual, mas os astros dizem que somente os
librianos são bissexuais.
Existe
uma santa, se não me engano é madre Tereza D, Ávila, que em vida toda vez que
orava chegava ao orgasmo.
A alegria é remédio para os doentes e não e não
premio para os santos essenciais.
Ontem
vi dona Vanda que está aqui no Brasil de férias, fiquei impressionado como ela envelheceu,
eu estou pior, já passei dos cinqüenta anos e não tenho nada, minhas mãos
calejadas de escrever poemas prosaicos, olhos cansados pelas descontinuidades
da vida, sem dinheiro e sem mim mesmo.
Há
tempos uma menina com 11 anos, drogada e prostituida, pegou seus trapos e seu
cachorro nojento e foi morar comigo, levei o barulho do vento, sua maldade e
uma tempestade infindável. Tenho medo da policia, de palhaços, de cachorros.
É triste sentir a falta de alguma coisa e saber que
não dá pra comprar, substituir, esquecer, implorar, morrer e nem viver sem ela
. . .
Estou doando a minha senha, mas se quiser venha logo antes que eu volte a ser homem
comum explorado pelo perdão alheio.
‘’Seus lábios, seu pau, suas pernas se perdendo entre as minhas, seu
peito, seus pelos, seu sorriso amarelo recordando o cigarro de outrora, suas
mãos conduzindo a minha mão, os olhos cansados e feridos pelo cotidiano, adoro
seu inferno doce e esse seu jeito de quem não sabe ser feliz direito, seu
rosto, seu sexo, seu gosto, é sorte, morte é porto. Confesso e me rendo à
humilhação eterna de precisar dessa matéria humana clandestina que é você,
pedaço de veneno e oração. O cheiro do seu gozo é o meu pilar de localização no
mundo e se a vida me condena a seguir que seja para beber seu suor, sua saliva
e sua porra’’.
Levantou
o SOL do meu coração em pleno inverno, trouxe FLORES, pra minha estação AMOR
eterno!
‘’Em meio a espinhos, pedras e lamas, alguém
segurou minha mão era você e assim Deus caminhou em meu mundo através de suas
palavras
-Me disse um amigo:
‘’Só por ter acontecido já deu certo. Reconcilie em seu coração a chegada e a partida, porque a experiência do desligamento deve ser tão bonita como a experiência do primeiro encontro. Esse sim é um jeito bonito de ser pessoa’’.
Festas, futebol, bailes, redes sociais, carnaval
não é vida, é apenas imitação da vida ou a mais vulgar celebração da solidão
coletiva. Viver por viver, sem chorar, sem sonhar, sem sofrer, sem escrever,
sem nem se quer sentir as batidas do próprio coração é um caminho perigoso, mas
também pode se tornar libertação. Quando dei por mim já era tarde e percebi de
modo secreto e porque não dizer particular?!
Que basta um gole de vida verdadeira e o oculto se manifesta
em formato de massacre pessoal e eu que sou um rebanho de pensamentos
incomunicáveis neles choro, neles moro, neles oro.
Agora eu sei que é sábado ainda que eu já não o tenha em meu corpo. O que mata a gente é o amor, quando ele cai doente, corre, morre ou escorre.
Um dia se eu não for preso antes vou contar ao mundo o que de fato ilustra a minha mais idiossincrática ira.
Olho para o ontem olho para aquilo tudo que foi
antes de ontem e alguém me pergunta se foi bom, eu anestesiado de maneira escandalosa
de tão anônima mesmo gostando de cavalos marinhos e tendo interesse profundo
por eles não soube dizer mais nada além do quase muito que ousei dizer um dia e
a minha mudez parada era o que eu tinha e só.
A lucidez é um projeto de loucura que não deu certo
e disso tudo sobra à pergunta o que fazer de uma vida toda quando ela vira
apenas um retrato empoeirado na gaveta do silencio?
O amor, a vida, o corpo e a morte espraiados no
asfalto em pleno meio dia onde o sol é um inferno celebrando a desgraça de uma
amizade que não se deu.
Saber-se amado é também uma forma de prisão, ao
passo que passar sem ser amado é ser livre de alguma coisa que vem espanta,
cega e antes do fim paralisa.
Sempre que se é alguma coisa na mesma hora se é o
contrario dessa alguma coisa e ele ‘’segue’’ se tornando vagarosamente tudo que
por maldade genuína outrora desprezou.
O sacrifício me interessa tanto que chego a pensar que existe uma riqueza insondável na tolice. Para todo ser humano existe um lote de ouro, fumaça e miséria entendem? Melhor não, entender é também uma maneira de prender alguma coisa. O que agora?,
No meio estou eu, de um lado da cama um travesseiro
e suas ausências, do outro lado fantasmas, lembranças, e retalhos de uma vida
que eu não sei onde acomodar. Hoje descobrir que pensamento também dói e talvez
seja a maior de todas as dores, mas também descobrir que podemos chorar por
dentro assim ninguém suspeita dos traumas, da agonia e da nossa fraqueza tão
imprevisível. A lógica de tudo é esconder do mundo a luta diária que travamos
para ser quem somos seguir sorrindo e carregando nas costas tantas pedras,
sonhos abortados e o rascunho de uma vida inteira. Ontem antes de adormecer
lembrei-me de que não havia chorado, resignado e penitente, levantei da cama e
um temporal se fez dentro de mim, chorei por dentro e saboreei com a ponta da
língua o doce de cada lagrima rolada porque aquelas sim desconheciam o fim,
nelas havia apenas começo, meio e só.
Chego a duvidar da bondade de Deus e acho cruel ter
que carregar por uma vida inteira, o mesmo corpo, a mesma história, o mesmo
nome sem direito a férias nem pausas. Um analista amigo meu me disse que o medo
maior dos homens é de ser rejeitado, Freud dizia que o maior medo do homem é o
da morte. O meu maior medo de do fim das coisas, carrego comigo esse atraso de nascença,
tudo acaba e eu não, eu fico ali, parado patético, em profundo estado de
demência.
Descontinuar
é morte para mim, mas eu continuo, sem continuar eu continuo.
Estou tentando me desligar das regras, da gramática
da pontuação. É uma forma de soltar o mundo ao meu modo para conhecer de perto
o nada, a garantia que sempre busquei, vem do nada, ele nunca acaba, nele não
cabe ponto final. Muitas vezes sinto medo e pena de acordar, porque o simples
fato de escovar os dentes, tomar café matinal, fumar o primeiro cigarro do dia
me devolve a sintonia com um mundo no qual que nunca soube habitar. Eu ando
pelas ruas prestando atenção em tudo com um olhar carinhoso até, mas vejo
pessoas e são muitas que já morreram e nem sabem,são como rosa apodrecida no talo,
sem força para cair de vez, eu vejo bichos, plantas, anúncios, carros e me
sinto um turista nesse mundo, embriagado de lucidez e medo, sou um estrangeiro
em meio a tudo de lindo que a no mundo. Eu giro em torno de pessoas e coisas
quase vivas, sinto vontade de voltar para casa, mas eis que em meio a esse
estranhamento mudo e paralisante encontro um conforto que me aprisiona. Eles
querem tudo, eu já não quero nada, eles passaram, eu não passei e isso é o pior
castigo para uma alma que não sabe viver entre o céu e a terra sem sofrer
porque as flores morrem os rios secam e que no fundo acha uma tolice a tarde
apagar o sol, ainda que seja para a noite acender as estrelas.
Ainda continuo sem saber por que
estou escrevendo tudo isso, mas uma coisa é certa: a palavra permite travessias
e seu chegar a algum lugar eu te aviso meu amigo, e se não gostar do que
escrevi, peço desculpas pelo transtorno estou
em obras. Queria aprender a gerenciar tantos sentimentos ao
mesmo tempo,queria sentar no colo maternal do mundo, chorar por tudo que se
perdeu, por eu ter me perdido sem precisar dar explicações.Cada dia sei menos
de mim.Já fui pranto, já fui canto, já fui tanto que prefiro esquecer.Quanto
mais olho para mim puro de amor inocente mais a distancia aumenta e mais ainda
me desconheço. Pai nosso que estais no céu santificado seja teu nome, venha
anos o vosso reino e seja feita somente tua vontade assim na terra como no céu
.Porque tornastes meu coração morada derradeira de tantas contradições?
Se eu um dia puder através da minha imaterial
esperança transformar a solidão em matéria de salvação será a gloria e também a
conquista maior de toda uma vida que aos poucos se perde imersa na mais
legitima perdição. Dedicarei o resto dos meus dias, horas e segundo para
transformá-la em combustível, condição e, sobretudo força antes que ela devore
a minha pureza já estupidificada com seus impiedosos lábios de navalha. Estou
falando da solidão.
E Cristo que nos entenda.
Príncipe Marlon
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