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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Á ditadura gay


Para ser gay moderno e antenado se faz necessário ser baladeiro, sarado, gostoso, bem dotado, bom de cama, usar griffes ( M.Officer, Colcci, Ck ), beber Chandon, não ter apenas um carro, mas “aquele” carro, cartão de credito nem que seja aquele de limite baixo ( ninguém precisa saber ), o importante não é ser mas parecer ser, não é ter mas parecer ter. Certos clichês do mundo gay se tornaram algo cansativo quando começamos a cruzar o cabo da boa esperança, ou seja, chegamos aos quarenta anos, com zilhoes de experiências no currículo, algumas frustrações e outras satisfações, por ai. E ninguém venha me dizer que nunca teve um daqueles dias em que desejou se jogar no terceiro degrau da escada embaixo, quem disser isso bom “moderno” não é, há dias e dias, creio já ter passado por todos. Já peguei, fiquei, namorei, casei, morei junto, esqueci o nome no dia seguinte, separei, enfim acho que já vivi todas essas experiências que são absolutamente normais na vida de qualquer pessoa e ainda sim continuo querendo ficar, namorar, casar e tb separar pq afinal de contas não sou perfeito nem o outro jamais será. Perfeição só no dicionário. Relações não são feitas por um, mas por dois ( em geral ). Namorei homens maduros, gordos, magros e sarados, garotos lindos e outros nem tanto, mas que me ofereciam o que desejava naquele momento, sexo, companhia ou ate mesmo um bom papo inteligente, e vamos falar serio, inteligência é afrodisíaca. Já namorei garoto “facílimo” com cara de moco de família já casei apaixonadamente com homens realmente de família, pessoas anônimas e ate notórios badalados, já rolou de tudo nesta vida e porque não rolaria se estou nela para o que der e vier? Sem preconceito algum ou medo pra que, nunca tive e espero nunca saber o que é isso. Mas tenho pensado muito ultimamente na tal ditadura gay, conversando com amigos, das mais variadas idades e meu leque é variado, amizades de todas as graças e praças, afinal limitar para que … olha a ditadura. Nesses papos o que mais percebo são as queixas ou desabafos com relação a falta de compromissos, uma tal ética. Há jovens que saem do armário e confundem atitude com sentimento, e outros tantos que confundem relacionamentos como sopa enlatada que se acha em prateleira de supermercados. O que percebi nessa ditadura gay é justamente aquela que tb mais vejo onde já fui, na San Sebastian, na Off ou o mais emblemático de todos os lugares, a The Week seja Rio e Sp, ou seja, as questões são as mesmas, o tipo de gay aceitável e sem defeitos, com jeito de bom de cama mas tb tem de ter aquela cara de bom namorado, inteligente, passional sem ser ciumento, atencioso sem ser grudento, graduado, pos doutorado e atualizado, bem vestido e com bom pedigree para ser bem apresentado a família e principalmente exibido aos “amigos”, uma forma de manter o status, enfim, é uma gama de características que são observadas, analisadas, pensadas, postas contra a luz, feito o raio x e comentadas com o amigo ao lado antes de tomar a ação. Há aqueles outros que na falta dos predicados já citados tiram a camisa na festa pq fica mais fácil atrair o parceiro como naquelas danças onde o urubu abre as asas para chamar o parceiro, a danca e asa melhor fatura, vale tudo. Será mesmo necessário tudo isso só por uma foda casual ou uma idéia de namoro eterno? … sim pq há quem pense que namoros eternos começam assim, nada pode ser descartado nesse meio, mas será mesmo que este seria o melhor lugar para achar o “amor da sua vida”, nem sei, eu hj tenho contado nos dedos das varias mãos, minhas de dos amigos, que apesar dessa intensa vida social estão todos cada vez mais sozinhos, cada vez mais queixosos com relação a dança dos travesseiros, homens, garotos ou não, q dizem desejar uma relação eterna mas não resistem a primeira crise, afinal a oferta no mercado é tamanha que ao sinal do menor problema pulam fora e pegam o próximo da fila, eita oferta abundante essa … sem falar que de acordo com a hipocrisia social reinante alguns ate envolvem-se em casamentos heterossexuais afim de fugir do rotulo tão emblemático mas no fundo não enganam por muito tempo, e nessa vamos entrando na estatística, parece que todos querem namorar por cinco encarnações, da boca pra fora, talvez lhes falte a real vontade ou a experiência em saber o que é mesmo uma relação. E nesse momento eu e alguns amigos conversando sobre tudo isso percebemos que estamos mudando o rumo das coisas, passando para a próxima fase onde valorizamos outras coisas e talvez ser o que você é sem se preocupar com o que possam pensar seja a melhor saída, viver despreocupadamente jogando os rótulos na lata do lixo, levando a vida como quando se morde uma manga madura, se as experiências nos modificam e ensinam a gente vai mudando, vivendo e aprendendo mais um pouco a cada dia, sem enganar ninguém com promessas e não se deixando ser enganado por outras tantas as coisas acontecem, as pessoas bacanas aparecem na hora que a gente menos espera e onde a gente nem imaginava estar, e se não aparecer pouco importa a vida já esta mostrando outros potenciais. O bom nessa fase é ter aquele olho clinico que só o tempo nos traz e uma personalidade férrea. Levar a vida assim, longe da ditadura existente tem me mostrado surpresas incríveis, e espero aprender mais algumas coisas nessa fase boa que chega.
Por
Helio Lima Junior
Professor, escritor, turismologo, cronista, esteta, critico contundente da vida, graduando em arquitetura, apreciador da vida, filho de ogum, baiano, nordestino

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