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domingo, 17 de julho de 2016

Carvão e ternura'' natural''




, acordei atormentado tudo era escuridão me veio à lembrança de um tempo que eu era criança e um homem de olho marrom orou por mim e pela primeira vez aos nove anos me senti gravido de tolice e Paraíso, e nem tudo que vive merece viver a julgar por um homem que matou uma criança começando a corta-la por dentro, isso alguém me disse no passado, experimentei a cegueira mansa e repleta de medo inocente, em meio a um pavor confortável caminhei um pouco e consegui acender a luz do quarto, quase morri de susto parecia-me que um mundo acabava de se apresentar para mim, fui tomado por uma saudade possuída de carinho de ontem pelo do mundo de antes, do escuro que não era escuro, do nada que me dei sempre por carinho e segurança. Somente no escuro eu conseguiria me percorrer inteiro sem ficar escandalizado já no meio do caminho, sentei no chão acendi um cigarro e me dei conta que o mundo era o mesmo que eu nunca aprendi a amar, me dei conta que o mundo não é feio somente porque não sou dele, o mundo é bonito eu por ter sido brutal nunca soube habita-lo sem feri-lo. Acendi outro cigarro em seguida apaguei, não fazia mais sentido porque amar não é outra coisa se não entrar no tempo do outro, eu queria mesmo era rasgar essa parede que há no mundo e só eu vejo, queria rasga-la e descobrir o que há de fato depois dela, não estou falando de morte, estou falando do mistério. Confesso que o mundo foi vitima de minhas cuspidas violentas, mas ele não foi sempre vitima, houve um tempo que parecia que ia da certo, mas ele vinha e eu ia ou vise versa, tudo parecia jogo entre meu corpo retalhado o coringa e o mundo. Sinto pena do mundo e raiva também, porque ele poderia ter me arrastado pela minha mão infantilizada e ter me levado à força para fora de mim, eu sempre quis esta fora de tudo àquilo que me lembrava a minha humanidade furtada. O meu tesouro maior e mais bonito pousa em teus braços como maldição e você não quer, mas eu entendo e perdoou. Eu queria nunca ter descoberto que o amor mata, se eu fosse outro bicho e não gente, eu não morreria de amor, eu não precisaria das migalhas divinas que os homens chamam de milagres, eu tomaria banho de sol, de chuva e de sombra ou nem tomaria banho, sem culpa, sem precisar fazer esse esforço vulgar arrastando meu corpo pintado de estrelas cor de rosa até o botão que acende a luz do quarto e ser obrigado a reverenciar esse desacordo eterno entre meu corpo sujo e as ordens de Deus. Não vale a pena à alma presa, não vale a pena à luz acesa, para mim o sentido de tudo é rasgar o manual, abrir meu cofre de indigências e oferecer ao mundo, ser livre de fato, ser livre de fome, sim porque é o contrario do mundo que mata minha fome, a minha sede mais bonita sempre foi de beber o avesso do mundo. Alguma coisa em mim morreu só me dei conta no ultima domingo. Uma vez uma amiga me disse ao telefone que domingo é o dia perfeito para morrer, ela me disse que domingo Deus descansa e os viventes ficam todos entregues ao desarrimo. Prontamente perguntei: qual é o destino dos finais? Ela me contou tudo sem pudor, sem medo, sem culpas, mas prometi não revelar e guardei segredo. Posso da a Deus metade da minha paciência, mas não ela toda, entregar-me ao estase de pura paciência encheria meu corpo de chagas e eu morreria afogado em minha própria mansidão. Eu posso renascer ou pelo menos tentar se eu tiver a coragem penitente e resignada de apagar a luz do quarto, sem querer salvar o pão nosso de cada dia que outrora vi pisado, esmagado e molhado de chuva falsamente redentora, sem o velho aluamento de achar que eu poderia ver o mundo sem sangrar como uma galinha que alimenta homens quase do bem. Talvez eu consiga aplaudir a minha morte( agora estou falando da morte propriamente dita), mas eu também sei que a minha humilde vida e minhas sobras de amor pelo mundo não reduz em nada aquele olhar do moço que levanta cedo com um olhar cor de nada, em busca de uma estrada ou uma espada afiada que o proteja dessa sina sem sabor de vida de seguir honrado de plena lucidez que o levara mudo e cego e todo cheio de esperança ao contrario da imensidão. Voltando a falar do amor antes que eu esqueça, ele também é morte, pior morte acho, porque é diária e não mata de dor, mata de susto e medo. Eu quero nesse transe de amor profundo doar tudo que não vivi tudo que desaprendo a duras penas sobre a linguagem dos homens a alguém, mas não sei a quem, não sei se alguém teria espaço para abrigar minha alma toda riscada, de carvão e ternura natural, mas não como oferenda e sim como prova de amor. Estou doando a minha senha, mas se quiser venha logo antes que eu volte a ser gente atual e comum explorada pelo perdão alheio. Espero que um dia eu seja perdoado por acender a luz do quarto, e acordar antes da hora.
Marlon-príncipe maluco

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