Louca, hermética, mística, genial, inovadora: adjetivos que perpassaram toda obra escrita de Clarice Lispector. De origem pobre, a jovem escritora judia de sotaque engraçado, causa espanto e admiração no cenário da literatura nacional com o lançamento do seu primeiro livro: Perto do coração selvagem. O romance antecederia as principais características das obras subsequentes, a principal delas, o rompimento da lógica cartesiana no romance. Introspectiva para aqueles que não a entenderam, a escritora dá lugar ao pensamento, ao fluxo, escrevendo apenas, como que para salvar a vida de alguém (sem compromissos com o cânone), talvez a dela, como viria a dizer. Sua escrita é selvagem e convence apenas por ser; suas personagens, assim como sua criadora estão no limiar da descoberta, dos pequenos delitos, das fugas morais, na recriação do mundo e do próprio fazer literário. Em Clarice, biografia e obra se confundem, se misturam, a confissão impregnada nas personagens em terceira pessoa traz em seu cerne um naco grande de carne e essência da escritora, talvez, por isso, ela ficava oca quando terminava de escrever. A palavra para ela é além, é corpórea, matéria vertente, água em fluxo corrente.
Marlon-Príncipe maluco
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