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domingo, 12 de janeiro de 2020

Acabamentos


Não se preocupe comigo, prometo morrer ao vivo.
E eles os semimortos que me julgam sem nem ao menos saber da agonia que passo por trás de tudo que disfarço.
O apostolo Paulo tinha um espinho na carne, e eu como posso ter calma se tenho um espinho na alma?
E essa alegria suicida que sinto quando entro em contato com a palavra muitas vezes me salvou.
Matei Deus e Fujir da gaiola, sou livre, sou?
Assumo com dor e raiva que sou escravo e devoto da palavra, das benditas e das malditas também, com igual fervor.
As pessoas envelhecem, elas estão morrendo, inclusive eu e você que outrora já viu de perto o mais genuíno amor morrer.
Escrever é um desafio penoso e perigoso, mas vou seguindo, até onde? Não sei dizer.
Lembro-me de quando te emprestei meu destino e você dona do mundo, dona de casa e dona de nada me emprestou sua esperança, inútil lembrança.
Escrevo em forma de oferenda de aço e de flores, e quando em penso que já disse tudo meu coma psicológico me diz que ainda falta alguma coisa, o que será? Por Deus o que será?
A única certeza original que tenho e dela não abro mão é o mistério que me engole a cada amanhecer.
Em plena solidão sacralizada o poeta ousou dizer que somente o dinheiro compra o amor verdadeiro. Deixo aqui ilustrado que meu compromisso é com a palavra e não com o outro e assim me recordo que somente os grande tem grandes dores como me disse o professor Ivan Antonio.
Eu quero escrever um livro provavelmente sobre a minha habilidade de me movimentar no escuro, sem ninguém perceber, tudo isso é fruto da minha fragilidade, que não me permite aceitar os acabamentos da vida.
Que possamos sempre reconhecer a força do outro, sem permitir jamais que isso encabule nosso medo mais bonito.
Escrevo sobre flores, quintais e punhal, para esquecer um pouco que toda vida, a minha a sua, possui um golpe final.
Carrego comigo milhares de perguntas e cem mil cérebros de cimentos, de repente tudo em mim é incomunicável, e a resposta que busco tanto mora na infernal casa do silencio.
Escrever é o oficio mais perigoso do mundo, não estou falando de Augusto Cury, Zibia Gaspareto ou Paulo Coelho (embora eu tenho profundo respeito por todos), mas estou falando de quem escreve com o coração na boca como eu.
Escrever é um parto, podemos parir uma flor, ou uma dinamite, depende da lua.
E onde eu vou parar? Onde tudo isso vai parar? Não sei.
Restou apenas eu, a palavra e a minha tão ilustrada deficiência afetiva.
Escrevo me denuncio, me renuncio, me pronuncio e por um breve momento até esqueço que nesse mundo onde sou um mero amador só tem platéia para a dor.
Marlon Príncipe.






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