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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Orfandade



Hoje pela primeira vez tive um sentimento que nunca me ocorrera antes, o nome dele é orfandade, a dor foi tamanha que me senti engolido pela própria vida. Parece-me que a gente vira homem e logo adoece por dentro.
Talvez essa forma violenta e com tamanha clareza que a vida tem de nos apresentar a solidão seja também uma forma de crescimento.Família é um teatro prosaico, onde só tem aplausos no natal.
A vida adulta me ensinou que quando temos a sorte de ter alguém para segurar nossa mão por suposta caridade é porque na verdade ele sabe que possuímos algo de que ele precisa.
Quem dera poder apagar tudo que vivi, tudo que passei, tudo que penei, mas a vida é como uma flecha lançada não tem volta, nunca tem volta.
Crescemos e viramos um bicho de tanta lucidez.
Eu ando pelo mundo, converso com pessoas, dou milho aos pombos, escrevo toneladas de poesias, mas ninguém alcança.
A minha sensação de desencaixe é permanente, olhando para trás chego à conclusão que se pudesse eu mudaria tudo, menos uma coisa, pois foi à única que valeu a pena em toda minha vida.
Ainda me sobra um punhado de inspiração, mas sem garantias. Penso no meu futuro e me vejo velho, gordo,bebendo, fumando e escrevendo sem parar, na talvez inútil tentativa de não enlouquecer.
Já me tiraram tanto, espero que por pura caridade Deus não me tire à palavra, ela é meu oxigênio dentro do umbral que se tornou meu quarto.
Sempre escrevi, publiquei livros, sou lido por paralíticos emocionais como eu e por puro carinho inocente sou grato.
Às vezes Deus me tira a palavra e imediatamente fico cego. De certa forma me culpo por nunca ter conseguido escrever uma história cor de rosa.
É uma espécie de inclinação para os escombros do mundo, mas juro que eu nunca quis ferir o coração de ninguém, só quero escrever do meu jeito sem abrir mão de minha verdade verdadeira.
Não quero ser entendido, isso para mim, seria cultivar prisioneiros.
Agora por exemplo eu queria ter uma historia bonita para contar, mas não consigo porque em meu coração a palavra orfandade já foi escrita.
Hoje chorei, chorei pela criança que me roubaram a oportunidade de ser, choro principalmente por aqueles que têm fome e sede de justiça, entre eles estou eu. Tem dias que deito e já quase dormindo lembro-me que não chorei, prontamente me levando choro um pouco e volto para meu sono consolador. É uma espécie de penitencia que Deus me deu.
Existe um pacto amoroso entre a maternidade e o cemitério e eu totalmente molhado de chuva não consigo entender esse mistério.
A ignorância seria uma benção?
Tenho recusado todo tipo de aproximação, para usufruir de um punhado de paz para beijar o céu.
Escrever é o oficio mais difícil e perigoso, podemos parir luz ou treva. Eu apenas vomito e fujo para não engolir meu próprio vomito.
Humildemente peço perdão a Deus todos os dias pelo amargo e doce pecado de escrever.
Eu trocaria tudo que tenho e vivi, por alguns instantes de plenitude.
Sinto-me um adulto infantilizado procurando um brinquedo que perdi há mil anos.
Ganho dinheiro escrevendo e vendendo as minhas indigências, é um caminho sem volta e fatal, ao passo que não possuo dom e nem habilidades para mais nada.
A palavra me deu tudo, por isso sou escravo e devoto dela, a palavra me deu inclusive a clareza e seu veneno.
As pessoas não querem ser famosas para serem celebridades, mas para serem amadas. Pensem o que quiserem, mas a verdade é que o amor mora longe.
Agora eu queria gritar para o mundo inteiro ouvir, mas não posso, preciso escovar os dentes e dormir.
Marlon príncipe

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