Não estou falando do sentimento, até então desconhecido, que só agora já perto dos quarenta anos a vida da pior forma, a vida me apresentou em novembro.
Estou falando do quanto é difícil ser novembro,
maldito novembro, se dependesse de mim, novembro nunca mais nasceria.
Não estou falando de outubro que sempre desprezei,
estou falando de novembro que um dia minhas acontecencias infantilizadas acreditava ser
belo.
Não estou falando sobre a mesa posta daqueles que
tem o café da manhã, a faca a goiabada e o queijo (odeio queijo).
Estou falando dos nobres idiotizados em suas
próprias limitações psíquicas, que gritão histericamente que a favela venceu,
para nos iludir, nos enganar e nos calar, ao passo que nunca entraram na favela
para levar um panetone de goiabada, muito menos uma cesta básica.
Não estou falando da vitória adivinhada, falo apenas
que desde Cabral não há vencedores, somente perdedores. A julgar por você ou
por mim, ou por todos aqueles em que a derrota chegou a galopes.
Não estou falando sobre o poeta Manoel de Barros,
que somente ele conseguia decifrar o silencio dos pássaros e desse silencio ele
criava orquestra para assobios, ele dedicou toda sua vida para as inutilidades.
Estou falando do menino Henry, que foi cruelmente
assassinado pelo padrasto e pela mãe que durante o velório, abandonou todos e
foi para o salão embelezar os cabelos, a pele e as unhas, para ficar ainda mais
bela. Eu juro que tento, tento, tento, tento, mas essa historia nunca se
acomodou dentro de mim, eu também fui Henry, uma vez Henry para sempre Henry.
Não estou falando dos analfabetos que soltam fogos, porque seu time ganhou, deixando crianças deficientes em pânico, chorando, assustada como ficava minha irmã sem entender nada daquele barulho causado por imbecis que deveriam pedir autógrafos aos professores e não aos inúteis jogadores de futebol.
Não estou falando daqueles que conseguem passar o
dia inteiro, sem ler, escrever ou ouvir uma poesia.
Estou falando daqueles que estão sempre tão ocupados
que não conseguem parar cinco minutos para alimentar um mendigo.
Não estou falando do nordeste brasileiro que
transformou com sua incontestável força um ex- presidiário em presidente da
republica.
Estou falando dos vermes que outrora votaram,
elegeram e aplaudiram a opressão.
Não estou falando do rei do futebol, e seus mais de
mil gols, estou falando de sua filha que ele rejeitou por ser negra e morreu
agonizando e implorando por seu abraço em um hospital porco. O TELEFONE NÃO
TOCOU, essa foi a ultima frase de Sandra Regina minutos antes de morrer.
Goleador maldito, que o diabo o tenha, se aguentar.
Não estou falando dos inúmeros banquetes deixados
nas encruzilhadas, por praticantes de religiões de matrizes africanas.
Estou falando de milhões de crianças pobres que
morrem de fome no mundo o tempo inteiro. Quem sente mais fome, entidades
espirituais, ou crianças pobres?
Não estou falando sobre o skate que meu amado
padrinho me deu quando completei oito anos de idade, foi à única alegria que
tive na vida, mas um homem mal, que tem nome e infelizmente ainda vida o destruiu,
apenas pelo prazer de gargalhar em razão da minha dor.
Agora falo somente de um acidente que aconteceu:
minha visibilidade acabou de ser atropelada pela lagrima rolada.
Não estou falando do quanto chorei, ontem e no
próximo ano, estou falando do desejo de fazer a mulher amada sorrir e sempre falhar,
seu sorriso minha única matéria de salvação, mas não o acho então choro, me agacho e fico dois
séculos no chão com o corpo inundado de lagrimas e ausências, ela desaprendeu a
voltar, logo eu desaprendi a viver.
Não estou falando de Elise Matsunaga, estou falando
sobre todos os demônios que habitam o coração da mulher traída.
Atividade física faz bem para o corpo e para a alma,
não estou falando das academias lotadas, falo apenas das bibliotecas cada dia
mais vazias.
Não estou falando sobre Diego, estou falando sobre a
obsessão que todos os garotos de programas têm por cuecas vermelhas, todas
marcadas pelas digitais de pessoas invulgar como eu ou como você.
Não estou falando do quanto eles chorão e sofrem
sozinhos vitimados pelo eterno vazio.
Estou falando de todos aqueles que agonizam, na
infértil, infernal e barulhenta solidão coletiva.
Não estou falando de que vivem de migalhas
pornoafeivas,estou falando daqueles, que ainda não sabe, que quem não deixa
passar , não passa.
Não estou falando de Clara, ela só conseguia amar
com o cu, o coração, a buceta e as palavras, estou falando do destino dos
finais que acabou a levando a morte.
Não estou falando das vezes que me chamou de meu
bem, estou falando que na verdade sou seu mau, porque bem a gente não abandona
no meio do caminho como se fosse um sapato velho, eu sou definitivamente seu
mau.
Não estou falando de dinheiro, sucesso, fama, prestígio,
estou falando sobre brilhar que para mim, consiste na capacidade singular de iluminar
caminhos, infelizmente você entendeu isso tarde demais.
Não estou falando de Matilde Campilho, nem de sua capacidade imaterial de segurar um revolver, estou falando somente da importância de sempre agir em verdade.
Não estou falando do talento inquestionável de Elis Regina, estou falando de como nossos pais deram a ela fama, dinheiro, sucesso e visibilidade mundial, a transformando na maior de todas, quando antes ela era considerada uma simples e boa cantora como muitas outras da época,estou falando do maior poeta da musica popular brasileira de todos os tempos, Belchior autor de COMO NOSSOS PAIS, morreu na miséria, sem ajuda de ninguém, nem para comer.
Não estou falando sobre seu abraço, estou falando do
meu coração, totalmente retalhado pela vida e suas esporas de aço.
Não estou falando de Chico Xavier e seu coração de
mel, estou falando de Nelson Rodrigues e suas putinhas sedentas de gozo na
garganta.
Não estou falando sobre o sofisticado existencialismo francês, estou falando de Reginaldo Rossi e da falta que ele me faz.
Não estou falando sobre a insustentável leveza do
ser, como disse em seu livro Milan Kundera, dissertando lindamente o tema,
estou falando do imaterial peso do não ter.
Não estou falando do meu trono de PRÍNCIPE, estou
falando que existem algumas guerras que podem facilmente serem vencidas
simplesmente sendo abandonadas.
Não estou falando do meu mais terrível medo, que só
a matemática ouve, estou falando sobre os homens lindos de terno e gravatas que
não conseguem entender que criança não é brinquedo de adultos.
Não estou falando da necessidade de aprender, estou
falando de como é difícil e dolorido desaprender.
Não estou falando do que por vicio e covardia se
encontram em cima do muro, estou falando daqueles, que só eles sabem, que ponte
é melhor do que muros, porque elas nos permitem travessias, muros nunca.
Não estou falando sobre as interrogações
irreversíveis, estou falando apenas das centenas de vezes que tive as respostas
e ninguém fez as perguntas, nem mesmo você suspeito.
Não estou falando das quatorze crianças que
torturaram Gisberta durante mais de quarenta e oito
horas até sua morte em Portugal, estou falando do poema(BALADA DE GISBERTA)
feito pelo poeta Pedro Abrunhosa, musicado no Brasil por Maria Bethania, estou
falando que seu nome Gisberta sempre encontrará morada em minha boca, enquanto
eu viver.Ninguém foi punido, o juiz disse que tudo não passou de brincadeiras de crianças, assim como meu pai, esses monstros disfarçados de crianças, nasceram do imundo ventre de baratas mortas.
Não estou falando da crueldade de matar mineirinho com treze balas , quando uma só bastava, isso mesmo quem matou mineirinho não foi a policia foi Clarice, estou falando do taxi que não para negros, travestis e favelados, enquanto a viatura para o tempo inteiro.
Não é sobre a cura do HIV, estou falando do rapaz de
alma do mal, que matou cruelmente Brenda Lee, apenas porque ela oferecia,
remédio, alimentos e abrigo para soropositivos abandonados pela família.
Não estou falando do purgatório, por que basta um
passo em direção de mim mesmo e estarei diante de um império, estou afirmando
que Caio Fernando tem razão quando diz que OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAISO.
Adélia Prado é a maior escritora viva do Brasil, mas
não quero falar sobre a doçura de sua arte, quero apenas ilustrar meu mais
genuíno ódio , quando depois de lutar tanto para chegar perto dela , foi tudo
inútil, eu queria saber apenas quem era Jonathan, seu objeto de obsessão e ela
nitidamente não gostou da pergunta, logo respondeu, ele é fato poético, hora
onde tudo mais desse a sua devida desimportância, ela nunca vai revelar de modo
que nunca saberemos.
Não estou falando de perdão, devido a minha má sorte humildade definitivamente não é meu forte, Estou falando que apesar de toda crueldade sofrida , meu pai nunca desistiu do dele, eu desistir do meu e não me arrependo, não aprendi a conviver com seres cruéis e seus impiedosos lábios de navalha.
Não estou falando da infalível lei do retorno, que
sempre vem a galopes como as ventanias, estou falando de algo que acabei de
desistir de dizer. . .
Príncipe Marlon
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