Vejo nas baladas inúmeros seres vomitando arrogância, presos em uma solidão insustentável, mas necessárias para eles, sabe cada vez que vou a uma danceteria em São Paulo, Aracaju, Salvador ou qualquer outro lugar me sinto falido daquilo que tenho de mais sagrado: a ternura. Somos todos lindos, bem dotados, e ricos. Não não, somos todos crianças assustadas confinadas dentro desse jogo entre ‘’adultos’’ . Há quem diga é legal, é bacana isso é pertencer . . . Pertencer a que? Só se for a solidão coletiva dos que não tem nada a perder ou tudo.
Mas calma você pode conhecer um cara’’ legal’’ que vai te fazer ingerir toneladas de amor líquido, fuder com você te dizer palavras boas, sim porque o gostoso é amar pelos ouvidos, você vai cheirar a cueca dele enquanto ele te come, cuspir na boca dele durante o beijo e no dia seguinte meu amigo ele te joga na lata do esquecimento, porque acontece assim? Não sei, a culpa é toda sua, minha, mas principalmente nossa.
A vida caminha para um silêncio que não tem fim, a vida é assim para você para mim e principalmente para eles.
A quem pergunte onde estão às pessoas legais, aquelas que querem viver uma linda história de amor? Eu não sei, se eu soubesse eu tomaria um conhaque e iria atrás agora mesmo, porque o amor em mim é algo urgente.
Parece-me que estamos condenados a uma terrível roda gigante, ou você vai com eles, ou fica em casa lendo Clarice Lispector, Clarice traz lucidez à balada traz o ‘’prazer, o que você prefere o prazer ou a lucidez?
Meu amigo, Adriano Gustavo Di Andrade escreveu uma vez: dançamos tanto e sorrimos tanto que não sobrou lugar para a verdade. Bravo Adriano!
O que me impressiona é que o discurso é o mesmo, qual sua idade? Curte o que? Profissão? Tem carro? Isso determina se você é viável ou não, e o palhaço sem riso que faz as perguntas logo diz: nunca saiu de casa, sou de família, só quero um amor e por ai vai. . . Em meio a uma musica eletrônica que só serve para emburrecer, por falar nisso já está mais do que na hora de tocar Clara Nunes na balada, eu ia adorar ver isso. Quem quer amar mesmo não fica se rotulando pateticamente de ASSIM ou ASSADO apenas quer amar de forma livre de estereótipos ou posição sexual, porque afinal o que importa é o sentimento e a qualidade dele, ou pelo menos deveria ser assim.
Existem dois grupos, os malhados com roupa colada no corpo isentos de subjetividade que nunca viveu entre os livros, ler Zibia Gaspareto no fim do ano e se julga culto. Do outro lado existem aqueles mais sensíveis, que não faz academia ou se faz não de forma obsessiva, amante dos bons livros, com certo grau de espiritualidade e um punhado de nobreza, é claro que os bombados são maioria, eles querem aparecer, eles são hipnotizados pela possibilidade de ser a estrelinha da noite, os outros são tão poucos que nem são vistos, acabam não arrumando nem uma foda erótico-depressiva como os sarados, é o preço que se paga por gostar de Clarice, Rubem Alves, Caio Fernando Abreu ,Adelia Prado e tantos outros que tentam através da arte promover sua reinauguração humana.
No final da noite parece que os dois mundo estão relativamente misturados, até rola um dialogo rápido, olhares que no inicio nem se cruzavam começam a se cruzar, mas parece que da um passo em direção do outro fica muito caro, então acontece o que dizia Caio F, Abreu na década de 90, NO FINAL DA NOITE ELAS ACABAM BÊBADAS E INTRISTECIDAS, é isso o humano?
No dia seguinte é domingo, ele entra no facebook e fica feliz porque muita gente fala com ele, tem até aquele gatinho que tem jeito de homem que pergunta: porque não me ligou para marcarmos alguma coisa? Ele responde: porque o final de semana foi cheio, fui ao aeroporto buscar meu amigo que chegou da Itália, depois fui a uma exposição, depois teatro e até fui à igreja, eu me preocupo muito com as coisas do espirito. São tantas mentiras repetidas de forma incansável, que chega uma hora elas parecem verdades. Amigo amputa uma perna ou um braço e convida a galera do face ou do ZAP para te visitar no hospital, ai tu vai ver irmão que ninguém vai aparecer, porque você acabou de sair do aquário, coloca no face que você precisa comprar uma medicação cara e esta sem grana, coloca isso e veja quantas pessoas vai te oferecer ajuda.
Estamos todos condenados e confinados no labirinto de nossa própria solidão, sequestrados pela insanidade, só nos resta à desilusão ou a sublimação.
Meu grande amigo Ricardo Araujo dizia: ‘’Eu só quero um amor’’. Sinto pena, não dele, não de mim, mas de todos os amores que foram brutalmente contrariados e abandonados em troca de valores assassinos, sim porque matam o que deveria ser essencial em nós.
Todos querem as rosas, mas ninguém tolera os espinhos. . .
Vivemos tempos de AMOR LÍQUIDO, escorre, vaza, derrama como descreveu brilhantemente Baumam em seu livro AMOR LÍQUIDO. Talvez falte Deus, talvez falte ateísmo, talvez falte ética.
Fico pensando: acho que a pobreza esta muito mais ligada ao coração de cada um do que a restrição material. O universo da noite, baladas e redes sociais hoje é um palco onde se derrama toneladas de amor líquido, o problema talvez não esteja apenas no comportamento, mas principalmente no pensamento cheios de falsas luminosidades. Desculpa-me por eu jogar areia na sua devoção pela escuridão, me perdoe pela fumaça do meu cigarro. Entenda isso não é um desabafo porque guardo para sempre sorriso que não se abre. Continue amando o mau gosto do mundo se quiser, e não aprenda a me odiar porque quando os antidepressivos não fizerem mais efeito vai sobrar apenas à poesia. Não sei se escrevendo assim te represento, se a resposta for sim eu te convido a tirar agora as sandálias dos pés, jogar as mascaras no chão e se promover a condição de gente, porque não existe magia para encontrar o verdadeiro amor, mas existem alternativas que nos permite virar esse jogo de forma humana e produtiva, porque se tem uma coisa que a vida me revela o tempo inteiro é que MASCARADOS não podem se amar.
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