Outro dia conversando com uma amiga ela chorou a partida do seu namorado e outro amigo que estava conosco prontamente lhe ofereceu lenços para enxugar as lagrimas e a olhou com olhos de reprovação pelo pranto dispensado. Tenho uma prima que apanhava da mãe quando criança e sempre que a mãe a submetia de sessões cruéis de espancamento a proibia de chorar e se ela não aguentasse e chorasse ela apanhava mais ainda e nessa hora ela experimentava na carne o desejo genuíno de desnascer.
Embora eu seja católico tenho ainda certa dificuldade de entender Jesus na perspectiva de santo, prefiro Jesus como um Deus humano. Outro dia alguém me disse que Jesus também chorava, achei digno, e mais ainda me disseram que Jesus quando ia a um velório ao contrario do que todos pensam ele não ia para consolar as pessoas, mas sim para chorar com os familiares, fiquei emocionado ao saber e para variar chorei por entender que participar do choro é mais nobre que consolar. Se Jesus que era Deus encarnado não abria mão do seu direito de ser frágil porque eu preciso abrir?
Se eu pudesse eu convidaria todos os viventes para chorar as dores do mundo, não aquele choro que promove a amargura, mas aquele choro que nos religa a nossa humanidade esquecida.
Reparando alguns loucos eu percebo que eles são os únicos seres que podem chorar sem motivos e que podem chorar sem a obrigação de da explicação, porque a loucura também é livre.
Outro dia eu vi uma imagem da virgem Maria amamentando o menino Jesus, eu não sei traduzir em palavras o que naquela obra de barro provocava tanta sensibilização em mim, eu só sei que chorei ao ver aquela imagem, não havia nela nada de surpreendente, nada de novo nada de revelador, havia ali apenas beleza, e se existe uma palavra que tem o poder de nos congregar a sacralidade essa palavra é beleza, sim, sim, o belo é Deus.
Se eu pudesse eu libertava todos os corações da ordem macabra de ser forte, de não chorar, porque fui aprendendo pouco a pouco que existem alegrias suicidas e a tristeza pode ser bonita se olharmos para ela de um jeito certo, permitindo que haja em nos através da lagrima rolada uma reconciliação entre nosso ego e o humano em nós. A terra prometida está nas pedras.
MEREPRESENTA.NET
Marlon Albuquerque
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