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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Disparei a relatar-me



A lama das madrugadas era fiel no espelho de minha casa.
Então eu fugia para as ruas, e apanhava em meus braços um corpo seco, um corpo qualquer, sem identidade, sem verdade.
De tanto desejo me vi embebedado pelo veneno da boca de cada um e foi assim que eu virei nenhum.
Eu me sentia doido de tão permitido, a minha lucidez era apressada e medrosa por isso fugia.
Meu coração era uma nação habitada pelo silêncio que se fazia quando cada estrangeiro partia.
Eu não tinha par, eu não parte nenhuma com o amor.
Acompanhei o meu vicio e lembro que éramos tão iguais e tão distantes do bonito em mim.
Deixei-me em toda gente, mas ninguém se deixou em mim,à noite me chamava, era como se alguém precisasse de mim para fazer girar sua própria solidão.
O meu penar de tão silêncioso deixou a cidade surda, o meu terror era nunca ser percebido, mas eu precisava ser nenhum para continuar praticando a irrecusável rotina de matar o bonito em mim.
Eu me refazia no repouso do cansaço que eu sentia, e fiel a minha agonia eu rastejava em direção aos ladrões de mim, eles me faziam virá bicho, e jogar poema no lixo.
O ponteiro do relógio deles parou e nessa hora, exatamente nessa hora que não tinha nome meu coração disparava, mas a minha doença me oferecia o perdão necessário para reanimar as minhas pernas e voltar a andar em círculos.
Deus parecia ter deixado comigo o oficio de beber até o fim meu cálice de erros, sentindo correr esgotos em minha alma, disparei a relatar-me por gritos intermináveis, devotando-me ao trabalho de resgatar a mim. . . Ou apenas em um surto louco da vida esvaziar-me de tudo aquilo que nunca conseguir sentir.
Marlon( Príncipe maluco)

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